13 de dezembro de 2006

À conversa com ...Paulo Lopes - parte 2

Continuação da conversa com Paulo Lopes
Seleccionador Nacional Feminino
Sobre a preparação para os Campeonatos

O tipo de trabalho de preparação para um Campeonato – e falamos de uma Selecção, apresenta-se sempre como algo muito curioso para um treinador dito de clube. Será que nos podes desvendar um pouco a forma como funciona este tipo de preparação?

Como é público, durante a época desportiva, temos concentrações mensais em centros de treino com a duração de um dia, onde são ministrados treinos que visam dotar as atletas de pré requisitos para melhorar a qualidade ao nível da táctica individual e grupal, com o intuito de melhorar as diversas soluções que pretendemos ao nível da táctica colectiva.
Quando entramos nos estágios finais, as atletas no primeiro dia de estágio são sujeitas a testes de avaliação da sua condição física, que têm acontecido da Faculdade de Ciências do Desporto de Coimbra.
É de realçar que, estes testes também acontecem no final da época desportiva, para que a equipa técnica possa preparar o período transitório (caso haja) e preparar as atletas para que, quando estas cheguem aos estágios finais apresentem bastante qualidade na sua condição física. Assim, após conhecimento destes resultados no primeiro dia de estágio, adaptamos ou não (se não houver necessidade), a programação para a integração da componente física com as restantes componentes (psicológica, técnica e táctica).
Na primeira semana de treino, administramos treinos tri-diários, onde só se administra um treino de sapatilhas (muitas vezes para trabalhar a componente aeróbia, ou como forma de recuperação), sendo os restantes de pavilhão e com patins. Na segunda, terceira e quarta semana, administramos treinos bi-diários (de patins). Em todas estas semanas, todo o planeamento elaborado visa uma sequência lógica de integração das componentes psicológica, física, técnica e táctica, podendo haver adaptações e alterações consoante a evolução das atletas em relação aos objectivos pretendidos.
Nunca trabalhamos as componentes mencionadas anteriormente de forma isolada, ou seja, realizamos treino integrado onde todas estas componentes são trabalhadas juntas e não separadamente. Claro que temos atenção ao volume e intensidade de trabalho realizado em cada uma destas semanas, onde o acompanhamento individualizado das atletas é realizado, e onde temos o cuidado de saber como as atletas recuperam de um dia para o outro, para podermos continuar com a programação estabelecida, ou então proceder a adaptações. Por exemplo, através de um protocolo médico, para a medição da frequência matinal, as atletas verificam de forma correcta a sua frequência basal, visto ser um indicador para a equipa técnica, se estas recuperaram do esforço do dia anterior. Também, o registo da tensão arterial logo ao levantar, é um indicador para nós, de como as atletas estão a reagir ao esforço.

Em toda esta programação, a evolução táctica alicerça-se em princípios metodológicos de evolução, partindo de situações simples para as mais complexas. Isto é o que todos fazem, só que, no nosso caso e por estamos perante provas de curta duração, e onde todas as componentes já mencionadas são trabalhadas de forma integrada, a simplicidade de um processo táctico, torna-se intenso e logo com grau de complexidade elevada para atingir sucesso e de forma célere. Também é verdade que, ao trabalharmos com as melhores atletas nacionais (no nosso entender), nos dá a possibilidade de muitas vezes darmos saltos qualitativos de forma mais rápida, num processo de evolução ao nível da melhoria da qualidade de evolução na táctica colectiva.

Todo este processo de trabalho só é possível de conseguir mediante uma disciplina diária rígida, mas possível de concretizar por todos, porque é quantificada para um grupo. Exemplo disto, é a elaboração de um plano diário, em que as atletas e restante comitiva, têm acesso logo ao despertar para um dia de trabalho, com a informação de todo o tipo de trabalho a realizar, tempos de repouso, tempos de lazer, horários da alimentação e reuniões técnicas.


De uma forma elementar este é o tipo de procedimentos que realizamos com as selecções nacionais. No entanto, outras realidades são praticadas ao nível das selecções nacionais. Mas para este tipo de esclarecimentos seria necessário outro tipo de comunicação.


A Federação vem apostando, cada vez mais, no formato de preparação por Estágios repartidos ao longo da época. Do ponto de vista de uma equipa técnica, e podes falar como Preparador Físico e Seleccionador, quais são os benefícios deste tipo de trabalho?

Fundamentalmente serve para ver o estado de evolução das atletas por nós convocadas, após as direccionarmos para determinados objectivos, e com contactos regulares podemos preparar e mensurar o tipo de trabalho que pretendemos. Nestes encontros regulares, a componente física tem um papel muito secundário. Há sim, o cuidado de não saturar as atletas, para que estas possam encarar estes centros de treino como locais de aprendizagem diferentes e com objectivos estabelecidos e planeados para cada uma, para assim estas poderem evoluir para os objectivos que se pretende para a selecção nacional. Também, é de grande importância, o criar laços de companheirismo, amizade, e logicamente o de saber estar num grupo (é um critério de selecção) com propósitos orientados para um desígnio nacional.


E os Atletas, como têm encarado este tipo de preparação?

Têm encarado de uma forma bastante positiva, visto perceberem que podem tirar dividendos de evolução, com o objectivo de se tornarem mais fortes nas diversas valências a que são sujeitos, e que os tornam parte de um grupo de elite no desporto nacional.


E por parte dos clubes, como tem sido o feedback?

Como estes estágios são realizados em períodos que não interferem com a sua preparação ao nível das competições nacionais, logo que não interferem na sua programação, e como as atletas aumentam os seus conhecimentos, temos tido feedbacks positivos.



Trabalho com Mulheres

(continua...)

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