À conversa com ... Paulo Lopes

Paulo Lopes
Seleccionador Nacional Feminino
Preparador Físico da Selecção Nacional Juniores
Licenciado em Educação Física pela FCDEF-UC

Olá Paulo, antes de mais, deixa-me fazer dois apontamentos:

Primeiro, obrigado por teres aceite o meu desafio e colaborares nesta conversa.

Segundo, e como não poderia deixar de ser, parabéns pelo quarto lugar alcançado com a Selecção Feminina no Campeonato do Mundo, realizado no Chile.



Dada a tua experiência e o vasto campo de contactos que tens quer a nível nacional, quer a nível europeu e mesmo mundial, como vês o panorama Nacional do Hóquei Patinado no que toca à formação, em contraste com outros países? Achas que estamos no bom caminho?

Em matéria de formação, continuamos à frente relativamente à maioria dos países onde esta modalidade tem expressão. No entanto, comparativamente com o país vizinho, a Espanha, ombreamos lado a lado, mas, penso que estamos com um ligeiro atraso, devido à melhor qualidade temporal no acesso aos meios espaciais de treino, logísticos, e na qualidade do treino. Penso também, e em abono da verdade, que nestes últimos anos temos encurtado a distância que nos separa na qualidade de treino em relação aos espanhóis. E isto, deve-se sem dúvida no meu ponto de vista, ao aparecimento de uma mais valia para a modalidade - os licenciados em educação física, juntamente com o crescendo aparecimento de jovens treinadores conhecedores da modalidade e dos problemas inerentes a esta, bem como outros indivíduos de outras áreas relacionadas com a prática desportiva, e que solicitam através das suas associações os cursos ministrados pela FPP para obterem mais conhecimentos/qualificação dentro da área da formação. Penso que após uma estagnação que durou alguns anos, estamos a recuperar actualmente caminho nesta área - a da formação -, porque também os clubes se consciencializam que é necessário ter pessoas qualificadas para desempenhar um papel que se revela primordial no desenvolvimento do jovem hoquista, o de educador/formador.

Dado que ocupas dois cargos que te permitem ter contacto com jovens de ambos os sexos, encontras algum aspecto que aches estar a ser descurado, ou que poderia ser melhorado, na formação de jovens que é ministrada nos nossos clubes?

Um aspecto que penso que está a diminuir, mas que continua ainda a inquietar-me, prende-se com o saltar etapas na formação dos jovens. Qualquer clube que pretenda fazer formação, terá sempre grupos heterogéneos, e desde logo, têm de ter o cuidado de perceber que, indivíduos com graus de evolução diferenciados, requerem adaptações e estratégias de acompanhamento adequadas para melhoria da sua evolução. Também, que existem patamares de evolução que possuem determinados pré-requisitos que não podem ser descurados, e que não podemos transitar de patamar se não forem apreendidos os pré-requisitos anteriores, correndo-se o risco de mais tarde possuirmos um atleta com carências de diferentes níveis.


Falemos do Campeonato do Mundo

Como analisas a participação da Equipa que orientaste neste Campeonato do Mundo? Foram atingidos os objectivos?

Face à realidade com que nos deparamos ao longo dos últimos três anos no hóquei em patins nacional feminino ao nível da selecção sénior, devido à idade avançada que as atletas mais experientes tinham e face à sua indisponibilidade para continuar a representar o nosso país, tornou-se imperativo realizar uma renovação nesta selecção. Esta renovação, foi programada com cuidado, visto termos na retaguarda da selecção sénior, e já em preparação nos três últimos anos, uma selecção sub-19 que vinha a ser acompanhada em momentos chaves da época desportiva, através de torneios e mini estágios, com o propósito de preparar o futuro da selecção principal- a sénior. Assim, foram definidos como objectivos principais, a melhoria das qualidades ao nível da técnica individual, táctica individual e grupal desta selecção, com o intuito de as preparar para os grandes eventos internacionais, ombreando com todos os adversários de topo. Mas, estamos a falar de atletas com idades compreendidas entre os 17 e 23 anos de idade que participaram neste mundial, o que logo nos garante ainda uma grande margem de progressão. Assim, podemos dizer que com o trabalho realizado com estas atletas com idades muito jovens, este campeonato do mundo revelou-se bastante positivo. Os nossos objectivos foram em parte conseguidos, visto que num grupo como o nosso, apelidado de grupo da morte, onde se disputava a passagem aos oitavos de final com a selecção campeã da europa (França), e a selecção italiana, e com resultados de 6-1 e 5-2, respectivamente, e a nosso favor, estávamos num patamar indicador de muita qualidade ao nível do jogo. De seguida, enfrentamos a Alemanha nos quartos de final, candidata a um lugar no pódio e vencemos por3-1, e novamente com uma qualidade superior ao nível táctico. Não termos disputado a final, apenas se justifica por factores externos que aconteceram no jogo da meia final com o Chile, em que Portugal foi amplamente prejudicado pela equipa da arbitragem, e digo isto sem qualquer problema, porque estou devidamente documentado com suportes de vídeo deste jogo. No entanto, volto a frisar que conseguimos construir uma boa base para o futuro da selecção sénior feminina.


Que tipo de expectativas este resultado deixa para o próximo Campeonato da Europa?

Como disse anteriormente, a base para o futuro desta selecção está lançado e possui ainda uma margem grande de progressão. Sendo assim, encaramos o futuro com positivismo e pensamos que somos sérios candidatos à vitória final no próximo campeonato europeu.


Sobre a preparação para os Campeonatos

(continua)