29 de maio de 2006

Dia Nacional da Energia


Aproveitando o facto de hoje se comemorar o Dia Nacional da Energia, aproveito o mote para expor alguns dados relacionados com a energia. Não a energia eléctrica nem mesmo a eólica, e não estas porque, por um lado, a minha formação não é nesses campos e, por outro, a minha bagagem cultural não é suficiente para tal. Este espaço também não é dedicado a este tipo de informações.

Irei, então, e de uma forma que espero pouco maçuda, expor alguns dados sobre uma energia muito específica, uma energia que está relacionada com o treino desportivo, ou seja, a Energia Corporal. Energia esta que se apresenta como fundamental ao Comportamento Humano e, por conseguinte, à realização de Actividades fisico-desportivas, entre outras.

Os dados aqui expostos são provenientes de uma das muitas Ciências do Desporto: Fisiologia que, de entre muitos outros fenómenos/processos, estuda as formas através das quais as células do nosso organismo obtêm a energia necessária às suas tarefas.
Desde já, afigura-se-nos fundamental uma questão: de onde provém a energia necessária às diferentes contracções musculares necessárias aos diferentes movimentos desportivos? A resposta a esta pergunta é rápida, mas não muito simples: a energia provém dos alimentos que ingerimos.
Dos alimentos ... Como assim? Será que o pão ou a fruta, por exemplo, são os responsáveis pela força que eu tenho no remate, ou serão fundamentais para a resistência que me permite aguentar um jogo?
Não é assim tão simples ... os vários alimentos ingeridos são de 3 grandes grupos: Glúcidos, Lípidos e Prótidos, e estes, após um conjunto de lentos e complicados processos, vão libertar energia em forma de ATP (adenosina com 3 fosfatos) que é uma molécula rica em energia. E é a partir desta molécula que as diferentes células obtêm a energia necessária às suas actividades.


De uma forma muito superficial, pode dizer-se que a célula obtém a energia necessária às suas funções através de dois processos chave. São eles: o aeróbio e anaeróbio.
Qual o significado e a diferenças entre si? O que marca a grande diferença entre estes dois processos é a presença ou ausência do oxigénio aquando da síntese do ATP. Assim, processos aeróbios são processos que decorrem na presença do oxigénio como principal interveniente nas reacções químicas necessárias à degradação dos substratos energéticos (acontecem no interior das mitocondrias). Sendo os processos anaeróbios os que se desenrolam na ausência do oxigénio (acontecem no citoplasma da célula).

De uma forma geral, repito, de uma forma geral, o factor que determina a solicitação de um ou outro processo, é a intensidade do exercício que realizamos, ou seja, quanto maior for a intensidade dos exercícios que realizamos (ou pretendemos realizar, para o qual nos treinamos) menor será a intervenção dos processos aeróbios como principal fonte energética.
Na prática, isto quer dizer que a “energia” necessária a um remate provém de uma fonte energética diferente da necessária à resolução de uma situação de ataque planeado ou de um contra-ataque, pois a intensidade e duração destes é muito diferente.

Aprofundando um pouco esta temática, a célula dispõe de três diferentes fontes de obtenção de energia (ATP), de forma a colmatar as suas necessidades em qualquer que seja o momento ou situação. São elas: a fonte Anaeróbia Aláctica, a fonte Anaeróbia Láctica e a fonte Aeróbia. Estas três fontes diferem entre si, essencialmente, no que respeita à capacidade e à potência energética possível de disponibilizar. Chegados a este ponto, e antes de explanar sobre as capacidades destas diferentes fonte energéticas, uma explicação torna-se necessária, a diferença entre as duas fontes Anaeróbias expostas: Aláctica e Láctica. A diferença entre uma fonte Anaeróbia Aláctica e uma Anaeróbia Láctica reside, em termos simplificados, na “produção” ou não de Lactato (substancia responsável pela instalação da fadiga muscular por bloqueio da actividades das enzimas, entre outros fenómenos). Assim, em termos teóricos, costuma dizer-se que, na Aláctica, não há produção de Lactato, e, na Láctica, há produção de lactato.
Em termos teóricos, a fonte Anaeróbia Aláctica é a que permite a obtenção de um potencial energético mais elevado, contudo a sua capacidade é a mais reduzida. Segundo os especialistas, a energia proveniente desta fonte energética esgota-se ao final de 7-10 segundos de solicitação (poderá ser a fundamental para o remate). As Anaeróbias Lácticas permitem que sejam estimuladas em intervalos de tempo maiores, podendo ir dos 40 aos 90 segundos, variando esta capacidade com a intensidade da solicitação (poderá ser fundamental para a grande parte dos contra-ataques e ataques planeados). Por seu lado, as fontes Aeróbias, devido ao baixo potencial energético, são as que apresentam uma capacidade maior, podendo, conforme as situações, fornecer energia desde os 60 segundo a várias horas (permitem a realização de um jogo, por exemplo).

Esta figura, que consta em todos os manuais de fisiologia, retrata a relação existente entre o trabalho motor realizado pelo Aparelho Locomotor e os processos de produção de energia.

Contudo, há uma noção que nunca podemos esquecer. É a de que, na esmagadora maioria dos esforços, as fontes energéticas trabalham em simultaneamente, e não de forma isolada, como pela explicação anterior poderíamos ser levados a pensar. Assim, qualquer que seja o movimento a executar, desde o seu início todas as fontes energéticas respondem a essa solicitação, ainda que com participações diferenciadas. Em forma de resumo, podemos dizer que quanto maior a duração do esforço a realizar, maior será a intervenção das fontes aeróbias e quanto maior a intensidade do esforço realizado, maior a contribuição das fontes anaeróbias.
Em termos práticos, e estes dados são provenientes dos estudos realizados por especialistas na matéria, em actividades que durem até 30 segundos, 80 % da energia necessária a esse esforço é proveniente de metabolismos anaeróbios e os restantes 20% de metabolismos aeróbios. Em esforços com duração entre 60 e 90 segundos, 45 % da energia é proveniente dos metabolismos anaeróbios e 55 % dos aeróbios. Em esforços com duração entre 2 e 3 minutos, 30 da energia provém das fontes anaeróbias e 70 % das aeróbias.

No que toca ao Hóquei em Patins, e sendo este um jogo pertencente ao grupo das actividades ditas de esforço intermitente (alteração de esforços de curta duração com esforços de ligeira/média duração), para que os seus praticantes cumpram da melhor forma as suas funções (arranques rápidos, choques e travagens constantes, entre outras), os mesmos deverão possuir boas capacidades/fontes aeróbias bem como anaeróbias, tanto Alácticas como Lácticas, em perfeita harmonia. Caso contrário, o seu desempenho saíra prejudicado, tanto por insuficiências técnicas, como por limitações tácticas.

Notas:
1- Teremos de ter em atenção qual a fonte energética que queremos potencializar no treino (s) e assegurar que os exercícios propostos estão de acordo com esse objectivo;
2- Não podemos, numa mesma sessão, querer trabalhar todas as fontes;
3- As pausas, ao longo do treino, terão de ter em conta os princípios atrás enunciados, e não acontecerem por mero acaso;
4- A solicitação das diferentes fontes leva a que as mesmas se “esgotem” e o trabalho realizado pelos atletas vá diminuindo a sua “qualidade” com o passar do tempo no treino;
5- A disposição fisiológica dos atletas vai diminuindo com o passar do treino e mesmo com a época. Uma vez que o cansaço não é mais que o começo da falência das fontes energéticas, temos de estar atentos a este, e contra isso não há nada a fazer a não ser permitir o repouso para a recuperação;
6- A Recuperação, assim como são as restantes características da carga, também deverá ser objecto de planificação, através da alteração nos intervalos de repouso bem como nos intervalos de duração dos estímulos.

N.B.
Hoje em dia, e numa altura em que o acesso ao conhecimento se faz das formas mais diversificadas, ainda há treinadores que, após terem dado uma “sarrafada de resistência” e ”sprints” aos seus atletas, na fase de aquecimento (esgotando muitas das suas reservas e acumulando fadiga), ainda pretendem retirar qualidade no trabalho de técnica e, até mesmo, de táctica colectiva, durante o restante treino. Será que não vêem que as condições ideais para tais objectivos já lá não estão? No início estavam, mas foram “queimadas” com os “oitos” e os “sprints” realizados ao início pela pista.
Esta realidade torna-se ainda mais grave quando a vemos ser aplicada em treinos de camadas mais jovens.... Haja ponderação nas tarefas que propomos aos atletas, e nunca pensemos que estes são máquinas!

5 comentários:

Unknown disse...

Uma pequena nota lá no nosso ACR Santa Cita acerca deste belissimamente Patinado.

Francisco Mendes disse...

Caro Caiano Silvestre,
Fico-lhe muito obrigado pelas palavras que escreveu. O seu blog tb faz parte dos meus "favoritos"
Abraço e bom trabalho.

MSJ7 disse...

Parabéns ao amigo Patinado pelo seu excelente trabalho neste maravilhoso Blog.
Assim vale a pena.

Um abraço
Mário Serra

http://marioserra7.blogspot.com/

Anónimo disse...

boas crónicas AMIGO patinado.
continuação.

ernani batista

Francisco Mendes disse...

Obrigado pelo apoio e pela força Mário e Ernani.. E boas crónicas para voces também.
Abraço.