26 de maio de 2008

Sobre os padrões de Jogo


Os jogos colectivos com invasão de campo, como é o hóquei em patins, são jogos revestidos de uma enorme componente estratégica. Um dos objectivos fundamentais da estratégia passa, na grande maioria das vezes, por ludibriar o adversário através de movimentações opostas às que realmente queremos colocar em campo. Queremos levar o adversário a agir ou a pensar de forma muito diferente daquela que na realidade nos interessa.





Actualmente, todas as equipas têm as suas acções de jogo, as suas situações jogadas, quer sejam as de bola parada, quer as de transição ou até mesmo as de ataque planeado. Contudo, poucas são as que obtêm sucesso com a realização das mesmas. O sucesso, em grande parte das vezes, surge com as chamadas “variantes” às situações usuais, e nem tanto com a realização da denominada “jogada”.


Quando uma equipa em posse da bola realiza um conjunto de movimentações que se repetem ao longo das sucessivas fases ofensivas, e até numa mesma fase ofensiva, estamos perante o que se pode chamar padrão de jogo. O padrão de jogo é uma estrutura de movimentações realizada pela equipa na fase ofensiva. Esta estrutura de movimentos requer uma organização entre os jogadores da equipa, o que nem sempre é fácil de colocar em prática e leva o seu tempo.

Um padrão de jogo bem organizado e preparado possibilita, por um lado, que a equipa mantenha a posse de bola e, por outro, permite que o treinador tenha um maior controlo da sua equipa, ou, como se diz na gíria desportiva, “sinta o pulso” à equipa.

O ponto de partida para o desenho do padrão de jogo é a análise das características dos jogadores da nossa equipa, dos adversários e do respectivo campeonato. Determinado este conjunto de características, o treinador deverá, antes de tudo, definir as zonas da pista nas quais as trocas de passes devem ser realizadas para que não ofereçam riscos da perda da posse da bola. Deverá, também, definir o tipo e forma de deslocamentos dos atletas, para que estes sejam realizados de forma a que equilíbrio ofensivo e defensivo não seja perdido e, por fim, mediante os aspectos anteriores, devem ser estabelecidas zonas de possível finalização.


Assim, e numa primeira fase, a construção de padrões de jogo procura, antes de tudo, a colocação dos atletas para a realização de determinada acção de ataque, ou então procura a abertura de espaços no meio campo ofensivo para uma possível infiltração, com ou sem bola, por parte de um atleta com o objectivo de conseguir uma vantagem sobre o adversário.


Uma outra vantagem da existência deste tipo de movimentações padronizadas - e que nem sempre é aproveitada, consiste no entendimento dos comportamentos que acontecem na equipa adversária essencialmente no que toca à sua postura defensiva.
Estes tipos de movimentações rotinadas levam a que a equipa adversária tenha, durante a marcação defensiva, um comportamento algo repetido e sistemático, de tal forma que os seus atletas vão-se acomodando às movimentações. Esta postura é acompanhada por desconcentrações na marcação, que começa a ser menos eficiente. A partir deste ponto, a nossa equipa realiza aquilo a que se chama de “quebra de padrão” ou as chamadas variantes. Assim, na quebra padrão, um determinado jogador (com ou sem bola) realiza uma movimentação preestabelecida mas diferente da que vinha a ser realizada no “padrão”, de forma a obter vantagem sobre a equipa adversária, conseguindo uma posição de vantagem.


Este é um pressuposto que nem sempre é aproveitado no treino, mas que quando bem preparado torna-se numa “arma” poderosa a nosso favor.


Uma condição essencial para que esta forma de entender e trabalhar o jogo seja viável tem a ver com o acreditar ou não por parte dos atletas que têm de realizar este tipo de acções. Sabemos que nem todos os atletas têm capacidades ou disposição para tal, pois este tipo de trabalho requer muita atenção e concentração e nem tanto a força – o que muitos gostam de aplicar nos jogos e que materializam através dos remates sucessivos contra o adversário ou para as tabelas/redes de fundo.


Contudo, por muito trabalhadas que as situações estejam, nem sempre será possível colocar em prática as movimentações preparadas, devido quer à importância do jogo, quer ao nervosismo dos atletas, quer ao facto da marcação do adversário não o permitir e, nestes casos, a capacidade de leitura e improvisação, bem como os atributos técnicos dos atletas terão de resolver as situações.


Brevemente aqui no patinado “proposta para treinar situações estudadas” no terreno.



2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente assunto.
Penso que esta é a principal lacuna do hóquei português.
Acho que neste momento só duas equipas do nosso hóquei realizam este tipo de jogo...o FCP e a Juventude de Viana...as restantes limitam-se a viver dos rasgos individuais dos atletas ou então recorrem à jogada típica de atirar a bola para a frente da baliza a ver se alguém a desvia...

Anónimo disse...

P.S. Esqueci-me de assinar o comentário anterior...

Ricardo Teixeira