8 de janeiro de 2007

Sobre a Competência do treinador...


No meio desportivo, quando toca a avaliar determinado treinador, é prática habitual ser realizada única e simplesmente uma análise, quase nunca ponderada, aos resultados alcançados pelos seus atletas ou equipa. Resultados e Ponto Final.

Quando estes não são os melhores, “rua com o mister”. O que me aborrece é ver, por outro lado, que há processos que são mal conduzidos, e que esses treinadores se mantenham no lugar. A este fenómeno dá-se o nome de “falta de rigor” na avaliação do treinador.

São por demais os casos de “chicotadas psicológicas” no mundo desportivo. Esta táctica, tão bem levada a cabo pelos dirigentes, torna-se mais usual quanto mais mediática se torna a equipa ou clube. Quer dizer, em tempos, só os grandes clubes a aplicavam, mas com o passar dos anos e com o aperfeiçoar da forma de estar dos “chicos espertos” dirigentes, a coisa tem vindo a ganhar terreno e a marcar presença até em clubes mais modestos, que se sentem com toda legitimidade para o fazerem da mesma forma que os ditos grandes. Por vezes, aplicam esta jogada a treinadores ditos “da casa” que estiveram na origem do salto do clube para esse, parco, mediatismo/conhecimento. Poucos são, todavia, os casos em que a prática dos treinadores piora de forma a merecer a chicotada.

De uma forma geral, tudo se passa, mais ou menos, desta forma: quando a equipa ganha, o treinador é visto como um herói. Contudo, este mesmo treinador, quando perde, não presta. Ups, isto afinal é muito simples.... Esta é a fórmula mais usual de avaliação do treinador....Não é que por vezes - muito poucas- não seja correcta, mas não é a mais equilibrada. Esta apresenta-se como uma equação mágica. E para a sua resolução, os aspectos relacionados com a qualidade, ou ausência desta, na condução do processo de treino não têm “peso” suficiente para influenciar o seu resultado final. Esta é a única certeza que existe. Se se perde, por muito bem que tenha sido conduzido o processo, o treinador está “chumbado”. E estando “chumbado” vai embora, mesmo que na época anterior, ou então numa fase anterior da época tenha conseguido resultados “milagrosos”. E mais rapidamente está “chumbado”, quanto mais “longe” a sua equipa estiver de atingir os objectivos!

Aqui faço um parêntesis: - Mas que objectivos?
Bem, devem ser aqueles que nunca foram indicados, nem pedidos ao “mister” no início da época, mas que a determinada altura “os poderosos” do Clube acham que são os mais dignos do Plantel por eles “comprado”....

Ora aqui está um processo bem orientado pelas pessoas que dizem “ter de levar” o “nome” do clube a bom porto. Começam por impôr determinados atletas ao treinador e, depois, exigem que o “mister”, com esses atletas impostos, construa uma equipa. Até aqui já não estamos bem, mas continuemos, mais grave é o que se segue: a determinado momento da época, pretendem que essa suposta equipa atinja os objectivos que, em certa e determinada conversa de café, acham que são os mais abonatórios, dadas as conversas dos amigos do clube, ou então dos amigos influentes dos dirigentes.

Será que a estes homens, dirigentes, não deveria ser aplicada a mesma equação que estes aplicam na avaliação dos “seus” treinadores, para a avaliação da sua “performance” enquanto dirigentes? Mais ainda, a mesma táctica da “chicotada”?
Da sua “performance” não, mas da condução do processo, uma vez que seria muito mais justo e muito mais indicativo da sua qualidade, ou ausência desta, nas suas práticas.

È fácil ser “dirigente”.....Ser treinador é difícil, mas mais difícil mesmo, mesmo, é ser treinador de “maus” dirigentes...

13 comentários:

lee disse...

Eu não sei se ser dirigente é fácil ou difícil. Eu não sei se ser-se treinador é fácil ou dificil. Eu sei que é dificil trabalhar-se com maus profissionais (dirigentes ou treinadores).

Anónimo disse...

Boa tarde. Esta temática carecerá sempre, tal como todas, da posição do observador de um determinado fenómeno. Ao falarmos dos dirigentes, temos de saber que, bem ou mal, são eles que dirigem, passe a redundância. São eles que tomam as decisões que podem definir o futuro dos clubes tal como os conselhos de administração decidem o das empresas.
Atentemos que o facto do clube ser profissional ou amador é decisivo é decisivo para a tomada de decisões a levar a cabo, ou deveria ser. Cntudo, tal como no treino para jogadores infantis ou adolescentes, existe o decalque de modelos de gestão de clubes profissionais para clubes amadores.
Bem ou mal, a inexistência desta diferença deve-se ao facto de, tal como a modalidade que é praticada por praticantes profissionais e amadores poder ser a mesma, os níveis de desempenho dos mesmo são totalmente diferentes, o que sugere que se pode fazer uma analogia entre processo dirigente e jogo no que concerne a níveis de desempenho. Assim, o treinador deve entender onde se está a meter ao aceitar um desafio, olhando para o panorama global da realidade que provavelmente encontrará (clube na sua totalidade), o que pressupõe trabalhar com vantagens e desvantagens e, no final, entender a relação prejuízo - benefício do projecto para si mesmo.
A gestão da expectativa é fundamental para entendermos a realidade, a que poderemos associar também um dos conceitos da palavra rendimento. Podemos encontrar treinadores que são bons mas que, dadas as condições estruturais do clube, o seu limite na concretização de objectivos é mais baixo do que seria num clube com um limite estrutural superior. Inversamente, há treinadores que poderão ser tão bons como este ou até não tão bons mas que, pelo facto de terem oportunidade de trabalharem com condições estruturais superiores, podem atingir desempenhos absolutos melhores que o técnico nas condições do primeiro que apresentei anteriormente. Existe então a confusão entre o limite da capacidade do treinador e o limite da capacidade do clube.
Se o rendimento for entendido com o percentual entre o que se investe e o que se obtém de retorno, então os treinadores que se apresentem na primeira situação têm um rendimento superior aos que se encontram na segunda situação. Se a noção de rendimento variar para o desempenho absoluto, então os que estão na segunda situação têm um rendimento superior comparativamente aos que estão na primeira situação. Por exemplo, se investirmos dois euros no euromilhões e o retorno for de dez euros, o rendimento é de 500% ou de oito euros, conforme as noções de rendimento em causa; se investirmos vinte euros e o retorno for de quarenta, o rendimento pode ser de 200% ou de vinte euros.

No alto nível, as pessoas procuram as performances absolutas e é esta a noção de rendimento que é apresentada de forma implícita em todos os meios da comunidade. Poucos são aqueles que conseguem distinguir com clareza este pormenor que é um pormaior.

A gestão da expectativa é fundamental para se perceber em que estágio do processo nos encontramos, de forma a escolhermos sensatamente se devemos começar, continuar ou deixar o processo.

Contudo, um grande alerta: lembremo-nos também dos treinadores que são mesmo bons e que estão a alto nível por mérito próprio e daqueles que não são tão bons e que, por sua responsabilidade, estão a trabalhar a níveis mais baixos. A diferença entre os bons treinadores que trabalham a top e aqueles que ainda não estão ou nunca estarão a trabalhar a top é a oportunidade, que por vezes surge por acaso e, outras vezes, como consequência do trabalho desenvolvido. Um dos temas do grupo musical "Pantera" chamado "Fucking Hostile" diz a certa altura "To see, to bleed, cannot be taught...". Então, o coração e a cabeça de quem observa não são os mesmos daqueles que vêem, de tal forma que devemos perceber se aquele que escolhe só sabe ver ou se é um observador, para nos orientarmos relativamente à forma como o processo que nos é proposto será conduzido. Isto é válido para os dirigentes e também para os treinadores e praticantes.

Em vez dos treinadores falarem menos bem dos dirigentes, percebamos primeiro as limitações por estes apresentadas. Concomitantemente, os treinadores devem entender as suas limitações e perceber que, se não estiverem dispostos à mudança, talvez a realidade à sua volta não se altere exactamente porque não mudam as abordagens processuais.

Voltarei a comentar em breve estes e outros assuntos aqui do blog.

Francisco Mendes disse...

Caro Ricardo,
Antes de tudo deixa que te diga que nunca, aqui neste espaço, chegou um comentário da "envergadura" do teu. Há, neste teu texto, uma grande quantidade de aspectos com os quais concordo,contudo, outros há, em que a concordância não é assim tão linear. Mas, como começas por dizer: a "temática carecerá sempre, tal como todas, da posição do observador de um determinado fenómeno".
Penso que o teu texto é um excelente ponto de partida para uma "agitação" aqui neste espaço. A ver vamos o que os "leitores" dirão.
Abraço.

Anónimo disse...

Palavras sábias dos comentadores, mas, por muito que se diga e se escreva este tema por certo não se esgota.
Sendo o futebol a mais mediática das modalidades, não cabe dúvida que o tema é transversal a todas as modalidades.
E estou convicto de que quer o futebol, quer o HPatins não são ricos em principios em teses e muito menos a apelos à cultura, pelo contrário abundam em coincidências que nos levam a uma preocupação constante.
Hoje entre aplausos e honrarias amanhã entre apupos e desvarios, e o ciclo repete-se indefinidamente, abandonados sempre aos caprichos da lei da sorte.
DIRIGENTES - TREINADORES - ATLETAS - OBJECTIVOS.(As simbioses perfeitas??????)
A questão do Treinador é uma questão pertinente mas não é essencial. Essencial é apenas a equipa toda, movendo-se toda no sentido da vitória, tentando interpretar todas as instruções e por natureza, certamente tambem elas faliveis.
Nenhum treinador do mundo possui na sua bagagem técnica a relação causa efeito.Os motivos pelos quais uma pessoa se converte em treinador na actualidade tambem não está de todo esclarecido.
Na antiguidade, o fim era o de ajudar a sobreviver, formar para a vida e proporcionar poder. Com o tempo junta-se a isto os propósitos pecuniários. Assim mais pertinente ainda é saber se os - TREINADORES TRANSMITEM CONHECIMENTOS OU SOBREVIVEM -(Gonzalo Romero Garcia-2004)
a transmissão de conhecimentos por parte do treinador fica condicionada pela resposta dos jogadores, pressões sociais vinculadas a outorgar maior importância ao resultado que aos processos de aprendizagem e ao grau de coerênciado do próprio treinador na hora de comprometer-se com as suas proprias ideias.
Ao reflectir sobre os métodos de treino do HPatins (e é a modalidade e discussão de ideias que me interessa partilhar), tem-se observado classes muito específicas de Treinadores os quais normalmente são professores de Educação Fisica, que se dedicam por hobbie e com uma mentalidade e conhecimentos pouco especificos sobre o HPatins.Também encontramos jogadores que entregam a sua experiência sem nenhuma base sólida sobre o actuação e o desenvolvimento dos fundamentos, nem principios básicos como a individualidade biológica ou os processos de evolução próprios da idade pubertária.
Cumpre-me declarar que nada tenho contra estes treinadores.Reconhece-se no entanto que o HPatins de hoje é levado a extremos de um profissionalismo??? subjugado aos ideais do resultado e do espectáculo tantas vezes impuro, que nada ajudam a preparar jovens para actividades fora das actividades do Pavilhão, como seria o ideal.
Face ao "estado das coisas" o Treinador será sempre um peregrino dos acasos e sempre há-de proceder por tentativas,o mesmo Treinador e a mesma equipa têm resultados negativos com equipas mais fracas e depois com equipas "superiores" brindam-nos com bons resultados.
Existe alguma lógica nisto, possivelmente não há lógica e será verdade. Mas há uma conclusão é que a questão do Treinador não é essencial. E ninguém melhor do que ele o pode comprovar.

Francisco Mendes disse...

anonimo,
Antes de tudo, obrigado pelo comentário, concordo com muitos dos aspectos que foca. Destaco quando afirma que, actualmente, as modalidades "não são ricos em principios em teses e muito menos a apelos à cultura.." e que em muitos dos casos em "nada ajudam a preparar jovens para actividades fora das actividades do Pavilhão.."
Já aqui escrevi que na formação o essencial, no meu ponto de vista, é a "formação de futuros homens" e depois, numa fase mais evoluída, e para os jovens que tenham capacidades, a "formação de jogadores". Note-se que Homens todos serão, num futuro mais ou menos próximo, enquanto que Atletas, somente alguns lá chegarão.
Para terminar, e estando de acordo quando afirma que o treinador será sempre um "peregrino dos acasos", permita-me descordar quando diz que a questão do treinador "não é essencial". Na minha óptica, o treinador, como líder que é ou deverá ser, e sendo também ele um elemento da equipa, e tendo em conta, também, o papel que ocupa no seio do grupo/equipa é uma figura por demais importante para ser visto somente "como mais um", mas sim O. Deverá ser O TREINADOR, O LIDER, O TIMONEIRO, O MOTIVADOR, O PROFESSOR, O AMIGO, O IMPARCIAL...
Vejamos casos reais:
Vamos ver o que toda a gente fala "Chelsea"! Equipa, antes e pós "José Mourinho"... o Homem mudou muita coisa... não será o treinador importante? Outro caso: Selecção Nacional de Rugby! Podemos ver diferenças significativas entre o tempo antes Tomaz Morais e nos tempos que correm. Outros casos seriam passíveis de análise, mas penso que estes evidenciam a importância que o treinador tem para mudar Realidades.... e nem sempre as mudanças e respectiva evolução têm de ser a estes níves, dado estes se passarem a "alto nível".
Ps: para tornar as escritas mais pessoais, e caso não veja nenhum inconveniente, gostaria que, em futuros comentários, se identificasse.
Abraço.

Anónimo disse...

O treinador, enquanto condutor do processo de treino da equipa, seja ela qual for, é o responsável pela operacionalização da sua ideia de jogo para a sua equipa. Por exemplo, se existirem dois treinadores de equipas da mesma modalidade desportiva com ideias de jogo semelhantes, as suas formas de expressão tendem a ser diferentes devido a:

- exercícios aplicados;
- nível do(s) praticante(s) e equipa(s) em questão;
- à forma como o treinador intervém na realização dos mesmos em tempo real (feedbacks);
- à interpretação/execução que os jogadores fazem dos exercícios ao realizá-los;
- ao encadeamento dos exercícios ao longo do processo de treino dentro da unidade de treino e nas unidades de treino (aqui, podemos considerar desde aquilo a que geralmente se designa por microciclo, mesociclo até macrociclo).

Então, cada processo é singular pelos motivos acima apresentados e essa singularidade é, predominantemente, da responsabilidade do treinador.

Assim, podemos dar exemplos de várias modalidades desportivas onde os treinadores (aqui vou só falar de treinadores principais porque são eles que efectivamente lideram o processo de treino), estejam eles a treinar que equipas estiverem, tendem a ter mais sucesso que outros no exercício das suas funções, em níveis de desempenho similares, em equipas diferentes, em contextos diferentes (clube e/ou selecção) e em países diferentes.

Por exemplo, no que concerne ao futebol, José Mourinho, Fábio Capello, Louis Van Gaal, Scolari, Rafael Benitez, Otto Rehaggel, entre outros, foram e/ou são treinadores que se enquadram naquilo que anteriormente referi.

Assim, a gestão do aqui e do agora suportada por uma ideia de jogo assente num conjunto de exercícios encadeados entre si que promovam a ideia de jogo que o treinador pretende que a sua equipa pratique é da responsabilidade do mesmo, pois é este o gestor/manager do processo de treino.

Anónimo disse...

Boa noite a todos. É um prazer dialogar neste blog com todos as pessoas que aqui vêm dar o seu contributo. Talvez no meu comentário não me tenha feito entender no que quis transmitir.

No que concerne à construção de uma determinada forma de jogar, eu não escrevi que os treinadores têm métodos semelhantes mas sim ideias de jogo semelhantes, pelo que transcrevo o que acima foi dito: "Por exemplo, se existirem dois treinadores de equipas da mesma modalidade desportiva com ideias de jogo semelhantes...". Assim, não fiz referência aos métodos de treino que utilizam para que a forma de jogar que pretendem apareça, pois esta pode aparecer de muitas formas. Assim, temos equipas que vencem muito mais que outras utilizando métodos e meios de treino diferentes. Todos querem o mesmo, só diferem na forma de fazer e sinto que não existe uma melhor que a outra, existem vantagens e desvantagens em todas as formas de projectar e operacionalizar uma concepção de jogo e há que olhar para o contexto como um motivo decisivo nas escolhas realizadas. Para uns, são mais importantes umas coisas, para outros serão outras a tomar os lugares principais. A ideia que pretendi expôr foi a seguinte:

Partamos da seguinte situação:
- há dois treinadores de uma qualquer modalidade desportiva que têm ideias de jogo semelhantes e no que concerne a métodos e meios de treino utilizados são também semelhantes, em níveis de desempenho semelhantes. Por exemplo, o treinador A pode usar um exercício que, no papel, é exacamente igual ao do treinador B. Na realização desse exercício, para além de termos jogadores de características globais que até podem ser semelhantes, o facto de um treinador direccionar a sua atenção, por qualquer razão que queiramos imaginar, para um aspecto que esse exercício apresenta e que o outro treinador atribui uma relevância diferente deste aspecto do exercício para a sua equipa (por qualquer razão que possamos imaginar e todas elas são válidas)pode levar a que o exercício, apesar de ser "aparentemente igual", seja na realidade diferente. É óbvio que também podemos olhar para esta diferença e vê-la apenas como uma variação do exercício em causa, o que também é válido.

Boa noite mas, por ora, tenho que acabar.

Anónimo disse...

Abraço, Mixman.

Anónimo disse...

Boa tardea todos.
Retomando a temática exposta anteriormente, podemos ainda avançar com outro exemplo:
ambos os treinadores apresentam, na sua ideia de jogo, a manutenção da posse de bola como uma das características que pretendem que as suas equipas apresentem. Existem infinitos exercícios que nos permitem desenvolver e aperfeiçoar esta característica. Contudo, apesar de ambas as equipas poderem vir a apresentar durante os jogos esta característica, ela pode expressar-se de diferentes formas, que podem ser melhores ou piores em função das exigências do contexto envolvente, como por exemplo: tipo de competição em questão, adversário, resultado no decurso do jogo, tempo que falta para terminar o jogo, entre outras razões. Contudo, não creio que as formas de execução desta característica do jogar pretendido venha a tornar-se uma regularidade do mesmo se a equipa treinar a manutençaõ da posse de bola duma forma diferente. Podemos dizer que de vez em quando até aparece algo diferente relativamente a essa carac terística que surge por acaso mas não passa disso mesmo, um acaso, pelo que não é uma característica do jogar dessa equipa, constitui uma excepção que só serve para confirmar a regra, no caso, a normalidade.

Até já a todos.

Anónimo disse...

Cabe ao Treinador tomar decisões relativamente a um inúmero de situações extremamente influentes nos resultados a obter no futuro. Qual a equipa titular, que substituições e quando, que estratégias e como desenvolvê-las.Conteúdo e Planificação de treinos.
Podiamos mencionar Verkoshanski, Matveiv,Bompa, Tschiene, Cometi, Jurgen Weineck ou então Metodo Clássico, Treino por Blocos ou ainda Treino Integrado,ou ainda uma Prespectiva ecológia do Treino e depois esbarramos no eterno condicionante "a importância do resultado". Utilizamos o resultado como desculpa da pressão do Presidente ou da massa associativa,o quanto é urgente ganhar.Utilizamo-lo para valorizar o rendimento de um jogador esquecendo o seu nivel inicial a sua progressão. Além disso utilizamos o resultado com "reclame luminoso" para exortar aos nossos jogadores a busca de auto estima escondendo as nossas verdadeiras intenções: evitar a frustração que produz a derrota e ou diminui-la no caso em que o resultado seja favoravel.
Decidir bem representa o sucesso. Fazê-lo mal conduz quase sempre ao fracasso, com a agravante de só sabermos posteriormente o resultado daquilo que decidimos.
...é impressão minha ou já nos afastámos da questão essencial. A «Chicotada Psicológica» - para tanto vou-vos transcrever um artigo da revista Horizonte da década de 90 que eu acho muito interessante.
Então começa assim:
A chamada «chicotada psicológica» entrou no vocabulário de uma certa gramática desportiva. Todos conhecemos os seus contornos, os ojecivos que visa e as situações em que ocorre.
Contudo, talvez nem todos, tenham dado a devida atenção à semelhança de processos ocorridos nas cerimónias religiosas dos nossos antepassados tribais.
Importa pois, que o objecto do desporto de alta competição não seja reduzido às suas componentes técnicas sejam elas tácticas, fisiológicas, psicológicas ou outras, uma vez que estas fazem parte enquanto sub-sistemas de um sistema mais amplo.Não querendo com isso desvalorizar a importância da componente técnica, gostava de vos recordar que, muitas vezes, o sucesso ou insucesso de muitos treinadores tem mais a ver com a sua capacidade ou incapacidade de relacionamento com este sistema mais vasto do que propriamente com as suas competências técnicas.
Este sistema mais vasto no qual as equipas, enquanto sub-sistemas, se inserem é caracterizado por um conjunto de valores, crenças, atitudes que no seu conjunto podemos definir como Cultura, cultura essa que no caso do desporto em PORTUGAL, e tendo no futebol a sua máxima expressão, contém no seu seio os arquétipos dos nossos antepassados tribais.

CONTINUA

CUMPTS

ANONYMOUS = H2O

Francisco Mendes disse...

Caro H20,
Tem razão, aliás tem toda a razão, e estou 100% de acordo com as formas como indica que usamos as vitórias, normalmente como nossa aliada, claro está. E, como diz, "decidir bem representa o sucesso"... sem dúvida, tanto para o treinador como para os jogadores e, até mesmo, para os dirigentes no sem número de decisãoes que têm de tomar. Saber decidir e dicidir Bem pode e deve ser treinado, ou não fosse a tomada de decisão um dos aspectos importantes no treino desportivo.
Confesso que achei interessante o artigo que aqui trouxe,e estou curisoso para poder ler o restante.
Abraço e obrigado pela participação.

Anónimo disse...

Continuação

«A CHICOTADA PSICOLÓGICA»

Este processo inicia-se normalmente durante as cerimónias religiosas(treinos e jogos),quando os velhos da tribo(ou seja os grandes treinadores de bancada)começam nos seus lugares especiais do templo (lugares cativos do estádio), primeiro em surdina entre eles e posteriormente já de viva voz, a clamar pela necessidade desacrificar alguém para que finalmente chova(ou seja que a equipa ganhe e/ou o campeonato, não baixe de divisão ou que consiga ir às competições europeias).
Em seguida este clamor alarga-se a quase toda a tribo(ver massa associativa) que assiste (na bancada)a essas cerimónias.
A consciência da necessidade de sacrificar alguém para que finalmente chova é geral. Neste momento o grande sacerdote (o presidente do clube) começa a preocupar-se com a agitação e a temer pela sua vida (ou seja o seu cargo de presidente).« Os deuses querem sangue, é o sentimento geral de toda a tribom, e se eles querem o meu sangue? e se um dos velhos da tribo que não conseguiu que o seu sobrinho fosse sacerdote(ou seja director do clube) o apoia?» O grande sacerdote que conhece o funcionamento das multidões, pois foi assim que conseguiuchegar a grande sacerdote, começa a preocupar-se, reune com os outros sacerdotes(ver direcção do clube)e tem a ideia de lançar o boato de que a culpa de não chover é da responsabilidade do chefe doas gladiadores(ver treinador da equipa).
Logo o sacerdote de serviço junto dos gladiadores(director do departamento)lembra-se que talvez ele proprio pudesse resolver o problema, pois até conhece um escriba especializado em meteorologia(ver jornalista desportivo) que poderia muito bem fazer isso.
O processo está lançado seguindo-se todo um ritual, mais ou menos longo, que conduz invariavelmente ao afastamento do treinador, na pessoa da qual «reside» o ente maléfico responsavel pela longa «seca» (em golos e vitorias) que a tribo vem sofrendo há demasiado tempo.
Perante a repetição destas situações,os chefes dos gladiadores começam a pensar que mal por mal talvez fosse melhor os próprios oferecerem-se para o sacrificio pois ao resolverem o problema do grande sacerdote a sua morte teria mais pompa, os seus familiares ficariam em melhores condições e passariam de entes maléficos a heróis da tribo.
Foi assim que se começou a assistir a um refinamento do processo em que não é só próprio que se oferece para o sacrificio, como expressão máxima do seu amor pela tribo, como tambem o grande sacerdote(ou seja o presidente do clube) no momento do sacrificio chora lágrimas pela perda desse ente querido talvez na esperança que assim os deuses sejam mais benévolos.
Mas um grande sacerdote deve ser, acima de tudo,pragmático, a a sobrevivência da tribo é mais importante que a sua dor , o que o obriga `tarefa sempre fácil de paralelamente a todo esse ritual, procurar um substituto. Na realidade apesar de surgirem candidaturas, logo que os sacrificios são anunciados, a substituição não é fácil, não só porque alguns desses candidatos se encontram bastante mal tratados pelas repetidas «chicotadas» a que têm vindo a ser submetidos, como também porque nestas coisas de sacrificios os deuses preferem «virgens» («virgens» de chicotadas, é claro)
É por isso que frequentemente, o grande sacerdote se vê obrigado a procurar o potencial herói noutras tribos em que este ritual seja menos utilizado (ou seja um treinador estrangeiro).
E de facto tudo isto parece funcionar durante as primeiras intervenções desse novo herói: quase toda a tribo está presente nas cerimónias religiosas ou seja nos treinos e nos jogos tenetando decifrar os sinais que possam indicar que finalmente vai chover garantindo assim o retorno aos grandes momentos de alegria e coesão de toda a tribo em torno do grande sacerdote.

O simples facto de se denominar «chicotada psicologica» e eu repito «psicológica» a um ritual mágico e(ou obsessivo uma vez que apesar de quase todos estarem de acordo em relação à sua irracionalidade poucos ou nenhuns se conseguem furtar, representa já em si uma indicação do sentido da resposta.

Como dizia no primeiro comentário a qustão do treinador é pertinente mas não é essencial.

Cumpts

H2O

Francisco Mendes disse...

Obrigado H20...
Não conhecia o texto mas está muito bom, muito bom mesmo.Uma visão do fenómeno pouco conhecida, pelo menos para mim. Adorei. Seria de todo importante saber o numero da revista para publicar cá no blog o texto, ou então o seu nome para deixar como um comentário que será publicado..
Obrigado uma vez mais.
Abraço.