7 de outubro de 2006

Sobre a Relação Treinador – Atleta

“A derrota pode desencadear novas energias,
levar à descoberta de habilidades insuspeitas,
ordenar uma reestruturação de mecanismos e
enriquecer a análise da realidade,
resultando no desenvolvimento da pessoa”
António Palmeira: Vitórias e Derrotas. Intervenções do Treinador.
In: Revista Gymnasium, n.º 1. pág. 71.

O processo de treino é, acima de tudo, um processo caracterizado por um constante manter de relações. De relações entre pessoas que, conforme o clube onde se trabalhe, pode ser um grupo significativo de pessoas. Todas as relações, desde que sejam “boas” relações, são fundamentais para o sucesso da formação ministrada por determinada equipa/clube/escalão. “Boas” relações, a meu ver, são as que se orientam pelo princípio da responsabilidade específica e do respeito mútuo.

Não querendo retirar importância a nenhuma relação, nem pretendendo fazer uma hierarquia das mesmas, há, contudo, uma para a qual devemos orientar a nossa atenção e ter os maiores cuidados e ponderação para que a mesma seja o mais saudável possível. Refiro-me à relação Treinador-Atletas. A meu ver, esta é a relação que mais contribui para o sucesso/insucesso da formação desportiva ministrada aos jovens atletas.

Segundo a literatura especializada, há diferentes formas de estabelecer esta relação. Umas permitem pouca autonomia aos atletas, limitando-lhes as suas escolhas, e aos treinadores que agem segundo este prisma, a bibliografia denomina-os de “Autocráticos”. A um outro grupo de treinadores, que permite mais liberdade aos atletas -liberdade no sentido de lhes alargar o número de possíveis escolhas, ou seja, é-lhes dada mais autonomia para o seguimento do processo, a bibliográfica designa-os de “Democráticos”.

Actualmente, já muito se escreveu sobre as duas relações: vantagens e desvantagens de uma e de outra: qual a mais indicada para os diferentes desportos; qual a adoptar para as diferentes fases da formação, etc. No entanto, tanto uma quanto a outra, são aceitáveis e benéficas. Há determinadas situações em que um “estilo” de relação - ou se quisermos actuação, é mais indicado que o outro e situações, há, em que um poderá tornar-se mais eficaz que o outro.

Cabe a cada um de nós, treinadores, estar atentos a estas diferentes formas de agir e ir colhendo ensinamentos para que, em determinado contexto, possamos aplicar aquela que nos pareçe mais adequada.

Qualquer que seja a forma de relação estabelecida, ou então a estabelecer, há um conjunto de princípios que, segundo especialistas na matéria, poderão melhorar a eficácia da relação treinador-atleta, e por conseguinte a formação do jovem como atleta. Estes princípios são:

1- A vitória não representa tudo, nem é a única coisa.
2- O fracasso não é a mesma coisa que a derrota.
3- O sucesso não é equivalente à vitória.
4- Os atletas devem aprender que o sucesso se encontra no esforço para a vitória.

Dado que estes princípios são como que a base para um processo de formação equilibrado, penso que quanto mais jovens forem os atletas que conduzimos/formamos, mais cuidado e ponderação devemos prestar aos mesmos.

Trata-se, acima de tudo, de “aprender” com a derrota e de retirar “vantagem formativa” com o resultado numérico menos vantajoso.

3 comentários:

lee disse...

gostava de lançar um desafio. imagina que eu sou uma jovem treinadora e que quero por em pratica todas as premissas enumeradas no artigo. que conselhos praticos voces treinadores já experientes (pré-históricos hehehehe)me dariam? como concretizam, por exemplo, a premissa "o sucesso não é equivalente á vitória", em actividades? o que tenho eu que fazer/dizer enquanto jovem treinadora aos meus atletas, de forma a que eles interiorizem a mensagem?

Francisco Mendes disse...

Mixman,
Concordo plenamente que o mais importante é a Formação de "homens", aliás como já aqui escrevi variadas vezes. Contudo, estas formas de "lidar" com os meninos também têm a sua vertente educativa, cada uma à sua maneira, claro.

Lee,
Muito simples em termos teóricos, mas na prática não é tão simples. Nós treinadores, e especialmente treinadores de Jovens, temos de procurar desvalorizar a derrota númerica nos diferentes jogos, não é que não procuremos a vitória, mas esta é o resultado de um conjunto variados de factores. E nem sempre conseguimos controlar todos eles, daí que temos de desvalorizar quando ela nos bate à porta, de forma a "estarmos bem" no próximo jogo. E cada jogo é uma caixinha de surpresas, logo cada altleta deve estar preparado para o que pode acontecer(ganhar, empatar ou perder). O essencial é que no final do jogo, todos os atletas tenham a sensação que deram o seu melhor. E se isso acontecer e ganharmos, optimo, se perdermos, o próximo jogo há-de correr melhor que o último.Afinal ninguém perde por gosto à derrota, como é lógico.Espero ter sido esclarecedor.

PATINSLOVER disse...

Relembro o que disse o Paulo Castanheira à alguns anos no "A Bola":

"Uma derrota vale mais que 100 palestras do treinador".

Acho que tem razão.

Pedro Antunes