17 de maio de 2006

Água...

Dado que estamos numa altura da época em que o calor começa a fazer sentir-se de forma acentuada dentro das pistas, essencialmente às horas dos jogos (períodos da tarde) deixo algumas notas sobre a ÁGUA.

É do senso comum que a água é um dos constituintes fundamentais do organismo. Ouvimos variadíssimas vezes que o corpo humano é constituído por 65% a 70 % de água, contudo, a sua repartição pelo nosso organismo é realizada de forma heterogénea.

De uma forma superficial, pode dizer-se que encontramos no nosso organismo dois “tipos de reservatórios” de água: a denominada “água intracelular” correspondente a 50% da massa corporal e esta localizada essencialmente nos músculos estriados, e a chamada “água extracelular” correspondendo a 20% da massa corporal, estando localizada essencialmente em dois espaços: o plasmático e no intersticial.
Sendo a presença da água o elemento responsável pelas qualidades de plasticidade/elasticidade dos diferentes tecidos, facilmente se constata que nem todos os tecidos são ricos em água e, a titulo de curiosidade, os ossos têm na sua constituição 20% de água e o tecido adiposo 30 %, ao passe que a pele na sua constituição possuí 70% de água e o músculo estriado 75 %.

Mas qual é mesmo o papel da água no organismo humano?
Sendo o solvente da maior parte das substâncias orgânicas, a água é indispensável ao desenvolvimento dos principais processos vitais e assume, também, um papel fundamental no mecanismo de regulação da temperatura corporal.
Postos estes dados da importância da água, podemos com toda a convicção afirmar que a água não é mais que a fonte da vida.

Actividade física e água, qual a relação existente?
Na prática de actividade física o gasto de água aumenta intensamente no sentido da evacuação do calor produzido pelo trabalho muscular (80 % da energia libertada transforma-se em calor), ocupando a transpiração um lugar de destaque no mecanismo de regulação térmica do organismo.
Desta forma, durante a actividade física através de um conjunto de acções e reacções dá-se uma ruptura do equilíbrio hídrico e electrolítico, o que provoca uma série de alterações que têm influência directa no rendimento desportivo do atleta.
A diminuição da capacidade física de um organismo (em todas as suas qualidades) acompanha de perto a perda de água sofrida pelo mesmo organismo em qualquer que seja a situação.
Segundo dados de especialistas, a deperdição hídrica diária normal é de cerca de 2,5 litros. Perda esta, que é feita principalmente pelos rins, pele, aparelho digestivo e tracto intestinal. Estes valores referem-se a dados normativos, mas quando nos referimos a organismos com actividades mais intensas, estas perdas acentuam-se. Estão descritas perdas diárias de 12 litros de água por sudação em soldados em situações de exercício, de 4 litros durante um jogo de futebol profissional e de 6 litros numa maratona corrida em tempo quente.
Sendo por um lado a água um constituinte fundamental “à vida dentro do organismo” e por outro lado sendo o seu “desgaste” acelerado aquando da realização de actividades físicas, uma questão fulcral se coloca:
Qual o mecanismo pelo qual o organismo adquire a água necessária às diferentes funções?
A obtenção da água necessária às diferentes funções faz-se através de várias fontes:
Água contida nos alimentos;
Água obtida pela oxigenação metabólica dos vários substratos energéticos; e
Água das bebidas.

Qual o papel do treinador/monitor em relação a esta questão?
A nós treinadores/monitores, antes de tudo mais, interessa-nos possuir no plantel jovens em condições fisiológicas de darem o seu melhor em toda a situação, quer de treino quer de jogo. Assim sendo, as questões relacionadas com o equilíbrio hídrico terão de ser tomadas em conta no processo de treino, como são as questões da técnica e da táctica.
Por outro lado, ocupando uma posição de formadores que somos, podemos e devemos intervir na primeira e na terceira fontes de obtenção de água. No que toca à primeira, devemos intervir aconselhando sobre quais as melhores formas de obter a água (entre outros constituintes) dos alimentos, quais os alimentos mais ricos e proveitosos para o rendimento físico, fazendo como que uma “educação alimentar” dos nossos atletas. Quanto à terceira, proibindo (através da explicação) a ingestão de algumas bebidas e educando o atleta a “sentir” a necessidade de beber água de uma forma regular.

De forma e evitar a instalação de situações de desidratação, nós treinadores/monitores devemos ter a seguinte conduta:
  • Encorajar a ingestão de água antes, durante e após a realização de actividade física, quer seja no treino quer na situação de jogo.
  • Contrariar a noção de somente beber quando se tem sede, pois quando a sensação de sede se manifesta já o início da desidratação se instalou. Da mesma forma, devemos incentivar a ingestão de água após a realização dos esforços, mesmo que os mecanismos da sede tenham acalmado.
  • Esclarecer que beber em intervalos regulares previne a desidratação e optimiza a performance desportiva.

    Indicações para a prática:
  • As garrafas de água deverão ser individualizadas, de forma a ser controlada a quantidade de água ingerida, e no caso de atletas que não tenham o hábito de beber, ou então com miúdos em inicio de prática, poder-se-ão colocar marcas na garrafa de forma a que estas sejam vistas como o objectivo a ser ingerido em determinado intervalo de tempo (treino, parte do treino, situação de jogo, etç).
  • Não podemos esquecer que grande parte dos miúdos não têm noção do seu estado fisiológico nomeadamente da instalação da desidratação, assim, e para evitar estados menos benéficos, devemos ter o cuidado de nos certificarmos que há ingestão de líquidos pelos jovens.
  • A ingestão de água deverá, numa primeira fase, ser alvo de controlo e mesmo planificação por parte do monitor nos seus planos de treino (tendo momentos específicos para a sua ingestão) para ir progressivamente sendo procurada pelos atletas consoante o que vão “sentindo” no seu organismo.

Nota final:
Pode perder-se peso de variadas formas, menos à custa da água, pois esta é, como vimos, um elemento essencial para os processos metabólicos do organismo.

Ps. Consultem o blog do dr. Hernâni e fiquem com mais aspectos importantes sobre a água.

4 comentários:

Anónimo disse...

AMIGO PATINADO,
EXCELENTE crónica vale a pena ler,
e é pena que alguns treinadores e monitores não leiam ou aprendam, porque vejo muitas vezes treinadores a dar um treino de 1 hora e não dão tempo que se beba água.
Mas amigo Patinado, isso será um tema mais virado para questões tecnicas e que eu não percebo.
mas que gostaria que voçe publicase, é um desafio que lhe lanço," O TREINADOR E AS CONDIÇÕES FISIOLÓGICAS DO ATLETA."

E MAIS UMA VEZ OBRIGADO, PELAS CRÓNICAS QUE PUBLICA.

ERNANI BATISTA

Francisco Mendes disse...

obrigado Ernani pela força e obrigado pelo desafio lançado. O tema que propõe é aliciante, contudo tão alargado que não é de fácil resolução, mas mesmo assim irei atráves de vários textos tentar reponder-lhe a essa temática. O presente texto já toca essas problemáticas das condições fisiológicas. Mas como vamos a isso...

Francisco Mendes disse...

na ultima frase não deve ler-se "Mas como vamos a isso", mas sim: Mas vamos a isso.

Anónimo disse...

Para mim está uma maravilha e pode
crer que aprendi e é com muita satisfação que venho ao blog, diáriamente.
Mas temos que falar mais muito,mais até verem que a água é um bem natural que só faz bem.
Obrigado pela crónica.

ernani batista.