1 de junho de 2006

Dia Mundial da Criança

Porque hoje, dia 1 de Junho, se comemorou o Dia Mundial da Criança por que não aproveitar para falar de crianças?
OK, vamos falar das crianças, até porque são o futuro da Nação ... e das nossas acções do dia-a-dia. Vamos, então, falar das crianças mas tendo em conta a actividade que estas mais gostam de fazer… JOGAR. Mas, antes disso atentemos numa situação: Crescimento/ Desenvolvimento da criança.

Crescimento/Desenvolvimento?
Pois, as crianças não são “adultos em miniatura” ou estará gasta esta expressão?
O Crescimento/Desenvolvimento das crianças até a fase adulta é um processo Individual e Contínuo que é realizado a diferentes velocidades e diferentes intensidades, ao longo do intervalo de tempo. Sendo um processo faseado, teremos de ter em conta este processo e as fases do mesmo de forma a ajustar as nossas acções às necessidades e capacidades reais das nossas crianças.
Provém da literatura especializada, e como tal é um dado que podemos tomar como adquirido, que o desenvolvimento de uma criança, no intervalo etário que vai desde os 7 aos 14 anos, é o período determinante para a sua integração na sociedade bem como para a formação da sua personalidade. E este mesmo intervalo apresenta-se como um momento onde a “vontade” e a “curiosidade” em aprender, assim como a capacidade de aquisição de novos conhecimentos, estão no seu máximo.
Se assim é, temos duas obrigações:
Primeira – fazer com que a integração da criança, com todas as suas diferenças (virtudes e defeitos), seja a melhor no meio em que esta se insere, sendo reconhecida no “seio da equipa” como parte integrante e integradora da mesma;
Segunda – as solicitações motoras devem ter um carácter de abrangência para que a base de formação desportiva possa, no futuro, suportar as exigências mais específicas da modalidade e, ao mesmo tempo, adaptar-se às condições que o praticante possui em determinada fase do seu desenvolvimento.

Jogar?
Toda a criança, antes de tudo, gosta de Brincar, gosta de Jogar (ainda que hoje em dia estejamos a observar uma alteração nos Jogos e no Brincar dos nossas crianças. Estas actividades envolvem cada vez menos o Corpo e Esforço Físico. Em pedagógicos (não é que o treino não o seja) é costume dizer-se que a criança “vive no mundo do jogo”, … e é feliz assim (acrescento eu). Claro que temos de fazer a separação das águas, o mundo do jogo das Crianças não é mundo do jogo dos Adultos. Estas duas formas de estar e ver o jogo são completamente diferentes, e são-no entre outros motivos pelas regras e formas de impor as mesmas.
Durante o Jogo, a criança participa de uma forma activa na actividade que lhe dá Prazer, que lhe cria Entusiasmo, e que lhe cria o Desejo permanente de Recomeçar a jogar, para além de afirmar a sua individualidade no grupo.
No seu jogo, a criança demonstra ao grupo as suas “proezas” e, com isso, conquista o seu lugar no Grupo; grupo este que, segundo rezam os manuais, começa a ser mais importante para a criança que o “Grupo Família”, daí esta necessidade de demonstrar as proezas que é capaz de fazer para, desta forma, se afirmar perante o grupo
Assim, o “jogar” adquire um lugar de relevo na metodologia do treino a aplicar em crianças.
O “jogo” - mas não o “Jogo Competição” - deverá ser um fio condutor de todo o processo de treino das crianças, acompanhando de perto toas as acções a desenvolver. Mas para que este “jogo” surta os efeitos desejados, o mesmo terá de sofrer alterações na forma como nós adultos o concebemos. As suas regras deverão ser mais simplificadas e as suas “obrigações” menos rígidas, de forma a que a alegria e o entusiasmo na tarefa de “jogar” seja realizada em níveis máximos de entrega. Assim, o jogo deverá ser sistematicamente orientado para que a sua acção educativa esteja sempre presente e nós adultos devemos fazer um esforço constante para entender e controlar as nossas reacções quando as “coisas” não correm bem aos pequenos. Pois antes de tudo mais, eles já estão aborrecidos por terem desagradado ao grupo, logo nessas alturas é preciso desdramatizar a situação.
As tarefas propostas deverão ser apresentadas sob a forma de “jogo” ou “forma jogada”. Neste caso, devem ser privilegiados os percursos pedagógicos, as estafetas e as situações de jogo mais reduzidas tanto em número de jogadores, quanto em tempo de duração quanto em espaço, e nem tanto sob a forma de situações rígidas de trabalho que podem tornar-se monótonas e pouco motivantes. Contudo, estas últimas formas de trabalhar podem ser válidas se revestidas de características de “jogar” que as tornam mais atraentes, através do acrescento de uma outra acção lúdica antes ou depois do movimento pretendido.

Orientações Práticas

1-Ter em conta que deverão ser as capacidades das nossas crianças (físicas, volitivas, e técnico-tácticas) a determinar as formas de participação/treino a serem implementadas no grupo de trabalho, e não aplicar determinadas formas oriundas de outras realidades que em nada beneficiam o grupo;

2- Os conteúdos e processos de ensino/treino deverão adaptar-se às capacidades das nossas crianças. Capacidades estas que, como vimos, estão sujeitas a processos de crescimento/desenvolvimento faseado, logo a avaliação das mesmas terá de ser uma constante;

3- Num processo de treino equilibrado, jamais podemos ignorar a Competição. Este meio de treino terá de ser uma constante no processo, contudo terá, conforme os restantes meios de treino, de estar adaptado à realidade – Crianças. Assim, as rivalidades e confrontos agressivos que são características das competições dos mais velhos, terão de dar lugar a competições onde o “prato forte” seja a vontade de vencer e o empenho, mas uma vontade e um empenho revestidos de carácter didáctico de forma a alcançar melhores prestações e não como um fim em si mesmo. Em cada competição de crianças terá que existir muito mais que uma derrota, um empate, ou uma vitória.

Duas Notas Finais

1.ª - Especialização
– É ponto assente que a especialização realizada em certos timings apresenta-se como uma condição essencial ao sucesso desportivo dos atletas. Contudo, não está provado que a especialização precoce de atletas permita um rendimento desportivo mais eficiente.

2.ª – Solicitações Multilateriais – não se pode obter um campeão sénior sem que o mesmo atleta tenha sido alvo de desenvolvimento equilibrado, variado, completo e progressivo relativamente às suas estruturas, funções, capacidades, habilidades e aptidões, ao longo do seu percurso enquanto atleta.
Somente a vivência de uma variada gama de experiências ao longo da formação do atleta possibilitará a criação de tais pressupostos.

4 comentários:

PATINSLOVER disse...

Mais uma vez, parabéns pelo teu Blog.
Pedro Antunes

Anónimo disse...

CONCORDO PLENAMENTE.
BOA CRÓNICA, EXPLICATIVA.
ABRAÇO
ERNANI BATISTA.

Anónimo disse...

Gostei do que li. Infelizmente assistimos muito poucas vezes a estas situações nos jogos dos miúdos.

Parabens pelos textos.

A.Guedes

Francisco Mendes disse...

Obrigado Pedro, Ernani e A. Guedes pela força que me transmitem ao deixarem registados os vossos comentarios.
Voltem sempre.